segunda-feira, 15 de março de 2010

"Hit the road Jack" - On the road e geração beat

Capa de On the road que mostra os protagonistas do livro, Jack Kerouac e Neal Cassady


Recentemente mergulhei de cabeça no universo beat, cuja uma das figuras centrais do movimento está o escritor de linhagem franco-canadense - embora haja uma tremenda confusão genealógica em torno de sua naturalidade, por ter nascido em solo americano - Jack Kerouac. O autor teria completado 88 anos no último dia 12 de março, se não fosse seus excessos.

Nunca fui de ler muito, embora minha profissão exija isso, porém uma parada quase que forçada me fez reatar os laços com a literatura. Talvez nunca fui fã pela obrigação de ler tremendos porres como algumas obras de Machado de Assis para as aulas de Literatura no colégio e, posteriormente, para o vestibular. Quem sabe seja essa obrigatoriedade que tire o interesse das pessoas em ler, mas vai saber...

Detendo-se no assunto Kerouac / beat generation, fiquei fascinado quando tive contato com o seu livro de maior sucesso e propulsor da "nova cultura" que surgia. Entitulado On the road, publicado no Brasil pela L&PM Pocket com tradução de Eduardo Bueno, o livro conta a história de dois amigos (Sal Paradise e Dean Moriarty) que simplesmente viajam de cabo a rabo pela América dos anos 40. Um hino à loucura, aventura e a um jeito descompromissado de ser, o teor da chamada geração beat, que juntou outros nomes com o mesmo ideal como Allen Ginsberg e William Burroughs.

Como de praxe nas obras de Kerouac, seus personagens são reais, embora levem nomes fictícios. Sua maneira - e capacidade - de transcrever cada cena faz o leitor sentir-se dentro dos inúmeros carros que eles entram durante o livro, junto aos protagonistas. São caronas, veículos roubados ou simplesmente emprestados que fazem parte desse universo inimaginável nos dias de hoje. Uma época de excessos por parte dos errantes beats, de atitudes frenéticas, sexo, drogas e jazz, que posteriormente seria substituído pelo bom e velho rock 'n' roll. Seu estilo literário impressiona pelo fato de On the road ter sido escrito ininterruptamente, com folhas de papel coladas umas nas outras para que seu ritmo não fosse quebrado, um espelho do que representava o movimento.

On the road influenciou gente como Bob Dylan e Jim Morrison e é, até hoje, considerado a "bíblia da geração beat, sendo leitura obrigatória pra quem quer conhecer um pouco mais sobre essa forma de expressão nascida nos anos 40.

Foto: DKPresents

quinta-feira, 11 de março de 2010

Meninos da Vila

Qualquer noticiário esportivo da atualidade brinca com a expressão "meninos da Vila", em referência aos jovens atletas do Santos que cativam o público e enchem os olhos com dribles, firuletas e cambalhotas, o tal "futebol arte". Tenho nojo disso.

Ontem parei pra ver Santos e Naviraiense, pela Copa do Brasil, um jogo onde o Santos empilhou dez gols e até o Mádson fez gol de falta - só pra se ter uma ideia da qualidade técnica da partida. Logicamente que o time do Naviraiense foi à Santos fazer turismo, tanto que a programação de hoje do time consiste em uma visita ao memorial do time da baixada e uma ida à praia.

Em ritmo de brincadeiras, comandadas por Neymar, Robinho, Paulo Henrique Ganso e André, o Santos fez o que quis com os sul-mato-grossenses. Desfilou aquele futebol moleque, a malemolência brasileira que faz o Galvão Bueno berrar desesperadamente nos jogos da Seleção:"Pra cima deles, Robinho!!!". O forever young Robinho foi e o Naviraiense ficou.

Não pelos dez gols, mas pela maneira de jogar, achei desrespeitoso o jeito do Santos se portar em campo. Tá certo que o jogador quando faz um gol quer mais extravasar na comemoração, mas ficar achando que é criança e corroborar com a ideia da imprensa de que são crianças, moleques que não têm aquilo como uma profissão e sim como um hobby, acho meio forçado.

Não gosto desse tipo de futebol de hoje em dia. Cresci numa década cheia de quebradores de bola como Dinho, Mauro Silva, Rivarola, Stam e, por outro lado gênios do calibre de Zidane, Frank de Boer, Dener e Dennis Bergkamp. Os últimos, jovens na época eram craques e sabiam disso. Não precisaram viver de um rótulo até o final de suas carreiras no futebol.

Sempre fui fã daquele futebol mais pegado, onde um carrinho levanta nacos e mais nacos de grama do chão junto com o atleta da equipe adversária. Fair Play era coisa de outro mundo. O futebol era muito mais rivalidade e menos cordialidade. A própria Libertadores da América já deixou de ser o que era há uns 15 anos. E o Mundial de Clubes nem se fala... Sou da época que as equipes que iriam se enfrentar em Tóquio não podiam ter patrocínio nas camisas, diferente de hoje em dia onde it's all about the money.

Infelizmente, o Santos das molecagens é um retrato do futebol dos dias de hoje, que empolga quem gosta de Pelé mas renega - e pune - quem gosta de um Schiavi da vida...

segunda-feira, 8 de março de 2010

É necessário o Dia Internacional da Mulher?

Hoje é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Meu texto não tem o intuito de ser machista, longe disso. Acho que os homens não viveriam sem as mulheres e vice-versa. O que me deixa um bocado curioso é se ter uma data para celebrar o fato de ser mulher.

Historicamente, o dia 8 de março remete a uma reinvidicação de trabalhadoras de uma fábrica de tecidos nos EUA por melhores salários e condições de trabalho, no ano de 1857. Logicamente que nada acabou bem e cerca de 130 mulheres acabaram morrendo em virtude de terem sido trancafiadas na fábrica, posteriormente incendiada. Absurdamente desnecessário e desumano, não por serem mulheres, mas por tratar-se de uma manifestação por condições dignas e de igualdade de trabalho, embora o fato da manifestação ter partido de mulheres - inimaginável na época - conte muito. Naquela época era praticamente impossível a equiparação entre homens e mulheres no mercado de trabalho e isso é refletido ainda hoje, embora em uma fatia extremamente menor daquele tempo.

Somente em 1975 a data foi instituída como Dia Internacional da Mulher e serve, até hoje, não só para celebrar, mas para debater o papel da mulher na sociedade. É aí que fico com a pulga atrás da orelha. Todos sabemos o papel da mulher na sociedade, não precisa de um dia especial para isso. Tudo bem homenagear essa questão histórica, mas isso de "entendimento do papel da mulher" não me desce muito bem. Alimentar isso é dar vazão ao preconceito. Pra mim, isso não é encarar de frente o problema. A mesma coisa acontece com as recentes cotas para negros, índios e pardos nas universidades. Como trataremos uns iguais aos outros se existe essas "regras de convivência" entre os seres?!

Todos sabem que as mulheres devem ser tratadas com igualdade no mercado de trabalho, mas nada é feito para que isso se torne realidade, e não me refiro aqui à campanhas pró-igualdade, etc. O que não pode acontecer, e anualmente ocorre, é uma pseudo-exaltação à figura feminina, que é forte, merecedora, etc., mas que no dia 9 de março volta a ser "comum" e sofrer o preconceito conhecido e tão debatido por todos. O dia da mulher não é um único dia durante o ano, mas sim todos!

No jornalismo, por exemplo, a atuação das mulheres aumentou muito nos últimos tempos. O jornalismo econômico é uma vertente dominada pelo poderio feminino. Em contrapartida, o esportivo começa a ser habitado aos poucos por elas. São mulheres que deram a cara a tapa e fazem o que gostam. É o mesmo preconceito sofrido por um foca, seja qual for o sexo. Existe - ou existiu - uma infinidade de mulheres marcantes no mundo, que se destacaram pela sua competência e talento, deixando de lado esse lance de que mulher é frágil.
É isso que deve acontecer!