segunda-feira, 28 de abril de 2008

A grande valia de um terremoto

Há algumas semanas, fiz um trabalho para a cadeira de Radiojornalismo III, que consistia em improvisar um comentário sobre qualquer assunto. Tinha algumas idéias em mente, porém não utilizei nenhuma delas. Enquanto aguardava para gravar o comentário, lia algumas notícias em sites diversos para tentar pescar alguma novidade que pudesse valer meu trabalho. Em meio a tanta notícia sobre o Caso Isabella, fiquei curioso ao ler uma pequena manchete no site do Terra: "Mulher morde cachorro em briga". Não fiquei surpreso. Hoje já é comum lutar de forma justa com um cachorro. Dentada a dentada.
Constatei o óbvio. Não há mais novidades na imprensa. Pronto, acabara de encontrar meu assunto perfeito. Há um mês, o caso da morte de Isabella vem recheando páginas de jornais com reportagens especiais em todos os 30 dias que hoje contabilizam esse treta familiar. Tanta especulação, tanta desinformação. Até mesmo após a população, em sua grande maioria, visualizar o caso como um verdadeiro circo e até quando ninguém aguentava mais ver as imagens daquelas duas janelas do sexto andar do tal prédio London, lá estava o rosto da menina ou do pai, da madrasta ou da mãe biológica (aquela que foi na missa de 7° dia pedir autógrafo pra Xuxa) estampado em algum lugar de destaque. É impossível se desvencilhar de tanta futilidade (mal) informada.
Lembro-me que no trabalho supracitado, comentei sobre hipóteses que poderiam estarrecer as pessoas (não necessariamente de forma ruim), a ponto de deixar o caso Isabella no lugar que merece. Sugeri uma invasão alienígena ou até mesmo uma investida do Godzilla ou de um Megazord dos Power Rangers contra o Leblon. Isso tiraria completamente o foco do caso que se arrasta por um mês e jogaria os holofotes em outra bizarrice.
Até que, na terça-feira, 22, a terra tremeu. Cinco graus e mais um pouco na Escala Richter. Meu sonho havia se realizado. Agora não traziam mais especialistas para falar sobre a forma que o assassino segurou a menina antes de soltá-la. Traziam geólogos, meteorologistas, pais-de-santo. De grande valia esse terremoto. Assim como a treta do padre que teve a fantástica idéia de ir do Paraná até o Mato Grosso de Sul com centenas de balões de festa de aniversário cheios de gás hélio acoplados às costas. Os balões foram encontrados em Santa Catarina. Na rota oposta ao destino. Isso, além de ser divulgada uma gravação que confirmava a bestial esperteza do clérigo que anunciava aos quatro ventos (literalmente) que não fazia idéia de como utilizar o GPS. Seria trágico se não fosse cômico. Porém, como já diria um conhecido que alegria de pobre dura pouco, nem 24 horas após esse reviravolta, voltamos a receber um bombardeio de notícias envolvendo os Nardoni.
Estou torcendo para que um Megazord inicie logo sua onda de destruição.
Tudo menos a Isabella.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Fato

Ninguém fala da mesma maneira que escreve.

Bastante curioso isso.








Próxima treta: A grande valia de um terremoto.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O assassinato da Língua Portuguesa

Hoje está cada vez mais comum lermos erros crassos de grafia ou gramática. Principalmente se esses forem retirados de textos na internet. A Língua Portuguesa e toda sua riqueza desenvolvida há centenas de anos está com os dias contados. Infelizmente, o grande culpado chama-se, vulgarmente, internetês. Um neologismo tão difundido quanto a dengue no Rio de Janeiro.
O que essa pobre língua fez para ser maltratada da forma como podemos visualizar sem muita dificuldade? Ela, nada. Não tem culpa de ser tão carregada de regras. Há regra pra crase, para a utilização de porquês, há regra pra tudo. Talvez essas pessoas que escrevem de forma tão errônea sejam trangressoras da disciplina e levam o antigo lema de que as regras foram feitas para serem quebradas na ponta do lápis. Ou nas pontas dos dedos. Mais precisamente dez dedos. A língua em sua essência não tem o poder de competir com dez dedos que tocam cerca de cem teclas por minuto. São muitos dedos. Nem é bom entrar na competição. O pior é quando os tais dez prolongamentos distintos e articulados são multiplicados em milhões, constituíndo uma chacina digna de veiculação no Jornal Nacional. Um crime contra uma língua.
O que se observa, principalmente entre os jovens, é a falta de leitura. E é justamente o principal motivo dessa carência linguística, que cisma em ter maior repercussão que a linguagem correta, formal.
O Português como língua, possui palavras fantásticas com uma sonoridade espetacular, porém não garantem que o sucesso dos fonemas seja transposto também a seu significado. Palavras como alíquota, receita, suprir possuem sons que agradam os ouvidos. Por outro lado, palavras como permuta, identificação e delével são horríveis. Quase xingamentos. Uma das que mais gosto é também uma das mais simples . Bebida. Ainda mais se tiver acompanhada de uma palavra complementar. Liberada é o ideal.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

O ser ético

Após uma longa e involuntária parada, cá estou eu, novamente, desmistificando as tretas cotidianas. Como já havia dito uma das inúmeras amigas do poeta: "Tem muita munição pra quem pensa que acabou". Hoje, poderia comentar casos de assassinatos ou seqüestros, como os da menina Isabella e de Madeleine, respectivamente. Mas não. Não irei cair na mesmice que está sendo apresentada pela mídia em ambos casos , requentando a notícia de forma a não conseguir levar nenhuma informação relevante aos telespectadores. Em contrapartida, irei comentar sobre o que ocorreu com o jornalista Roberto Cabrini, recém contratado pela Rede Record.
Na noite de terça-feira, Cabrini foi detido com 10 papelotes de cocaína e encaminhado para o 100° Distrito Policial. Ontem, foi transferido para o 13° Distrito Policial, pois trata-se de um apenado com curso superior. Segundo informações do Globo Online, o jornalista estaria fazendo uma suposta matéria acerca do tráfico de drogas em São Paulo quando foi surpreendido pelos policiais. No momento da prisão, Cabrini estava acompanhado de uma mulher chamada Nadir Domingos Dias, que, de acordo com o depoimento do jornalista, seria uma de suas fontes na matéria. Ela seria responsável pela entrega de fitas que comprovariam a autenticidade da versão do jornalista que, em 2006, veiculou um depoimento que seria do traficante Marcos Camacho, o Marcola. Fato que fora desmentido na época pela Secretaria de Administração Penitenciária.
Em depoimento, Cabrini acusou o delegado responsável, cujo nome não fora divulgado, de chantagem, uma vez que fora coibido a dizer que era amante de Nadir. História essa que fora confirmada pela mulher em seu depoimento. A situação do jornalista tornou-se ainda mais delicada após ele próprio ter admitido que existe uma gravação em que consome cocaína, porém, garante que o tenha feito mediante ameaças.
Por sua vez, Nadir disse que era namorada do jornalista há três anos e gostaria de encerrar o namoro, fato que não teria sido bem aceito por Cabrini, que a chantageava com documentos que comprovavam a ligação dela com a facção criminosa responsável pelos ataques em São Paulo há dois anos. Segundo ela, o encontro seria para acabar de vez com essa "chantagem mútua", como foi denominada por Nadir. Ele lhe entregaria o documento comprobatório e ela, as imagens dele usando cocaína.
Não se sabe quem é o certo, nem se realmente há um certo nessa história. O que levanto é mais uma reflexão sobre até onde pode ir a ética de cada um. Não somente relacionada ao jornalismo, mas à pessoa em si. Utilizar-se de meios como gravações escondidas é realmente a melhor maneira de fazer jornalismo? O jornalismo tem como principal função informar, denunciar ou julgar? Por tratar-se de uma pessoa bastante conhecida e muito competente, é evidente que, se for para pender por um lado, será o do jornalista, que, teoricamente, possui mais credibilidade que um traficante. Mas, e se ele realmente estiver envolvido no caso até o pescoço? Pode-se dizer que sua carreira está acabada, pois a credibilidade estará perdida. Nesse caso em particular, só um lado tende a perder. E é justamente aquele que não devia levantar suspeitas.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Independência ou morte!

Resguardo muito respeito à classe dos músicos. Músicos de verdade. Aqueles que criam obras para serem apreciadas, não meramente e tão somente consumidas pelo grande público. Porém, para isso, é necessário talento de berço, nascer com um dom e, então lapidá-lo de forma cuidadosa. Em contrapartida, não sou ninguém para dizer o que é ou não música de qualidade aos ouvidos dos outros. Não é meu propósito. Gostaria, sim, de enaltecer o aspecto (nem tão) independente que a música vive hoje.
Há não muito tempo, se uma banda não emplacasse músicas de sucesso em uma rádio de renome, a única certeza que se tinha era que essa banda não alçaria vôos altos na carreira. O reconhecimento musical vinha justamente disso. Hoje, com o advento de tecnologias que não eram sequer sonhadas nos primórdios do compact disk, a confecção sonora torna-se algo tão comum quanto ir à padaria. Se, há algumas tretas eu comentei sobre os contras da tecnologia na comunicação, nesse caso, me vejo obrigado a tirar o chapéu para ela. Bandas surgem com uma velocidade impressionante. Algumas delas promissoras, outras nem tanto, outras que misturam elementos criando uma sonoridade única, algumas que gostariam de tornar-se comerciais, algumas punks, outras que gostariam de ser punks.
O cenário independente, onde antes ouvia-se reclamações por não ter uma visibilidade, vive um de seus melhores momentos na história. Grandes nomes da música, com contratos igualmente grandes, renderam-se a essa independência para não sofrer na mão de corporações da indústria fonográfica. Isso, acarreta sérios problemas para quem lá trabalha, como o desemprego, por exemplo. Por outro lado, existem as gravadoras que se fundem para ainda tentar uma sobrevida. Porém, a tentativa acaba sendo em vão.
Há também aqueles que fazem o caminho inverso dessa tendência. De fato, o retorno financeiro tem voz ativa em escolhas. Charlie Brown Jr. e Marcelo D2 são os maiores exemplos desse fluxo anonimato-estrelato. Quem poderia imaginar que alguém que já esteve preso por uma suposta apologia às drogas, pudesse vir a tocar em um programa final do Big Brother, televisionado para milhões de pessoas?
A maioria dos grupos que ainda possuem vínculos com gravadoras, procuram uma sonoridade mais comercial, e acabam, muitas vezes, esquecendo-se que são músicos. Músicos de verdade. Outros, lembram-se disso e optam por um caminho que pode ser mais tortuoso, porém, muito mais prazeroso. Buscam sua própria sonoridade, fazem experimentações e não ficam muito tempo à procura da batida perfeita. É disso que a música precisa. Experimentações. Chico Science e o peso da Nação Zumbi foram (e continua sendo) um exemplo crucial de uma experimentação de sucesso. Sepultura no álbum Roots, outro. Agora, no desespero de achar algo novo, não adianta nada transformar AC/DC em psy. Isso, como já falei, não é experimentação. É enterro.